quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Sigilos - Id, O Porão dos Desejos Reprimidos (parte 1)

Dinheiro, fama, poder e tudo mais que você quiser pela bagatela de uma (1) alma!!!

Todos nós somos, em parte, máquinas ambulantes de realizar desejos - indo das coisas mais simples até a construção de mega templos para o demiurgo em plenas cidades secularizadas - nossa capacidade de produzir algo que abstraímos em nossa mente é impressionante (você só está lendo estas palavras em uma tela por conta disso, alguém já desejou isso antes!)!
 Alguns desses nossos anseios são as coisas quem mais nos motivam e nos movem, seja pelo amor ou
pela dor, nossos desejos às vezes são nosso mecanismo de espace e às vezes são nossa pior condição de maldição. Coisas que queremos muito parecem fugir de nós só pela tendência que todos nós temos a desfrutar o prazer platônico do que olhar a realidade face a face e rir como uma hiena. Tememos e evitamos eventos que se materializam à nossa frente quando menos esperamos - nossa mente tem o potencial de realizar uma boa parte do que desejamos, embora sejamos inaptos a colocar nossas funções psíquicas para dialogar claramente, o que nos impede de ter exatamente o que queremos ou mesmo entender o que realmente queremos.

Um complemento extra: "Liber Boomerang"
Um deus ignorado é um demônio nascido.
Você pensa em hipertrofiar alguns selfs às custas de outros?
Aquilo que é negado ganha poder, e procura estranhas e inesperadas formas de manifestação.
Negue a Morte e outras formas de Suicídio surgirão.
Negue o Sexo e formas bizarras de sua expressão atormentarão você.
Negue o Amor e sentimentalidades absurdas o incapacitarão.
Negue a Agressão apenas para fitar eventualmente à Faca ensangüentada em sua mão tremente.
Negue o Medo honesto e o Desejo apenas para criar neuroses sem sentido e avareza.
Negue o Riso e o mundo rirá de você.
Negue a Magia apenas para tornar-se um robô confuso, inexplicável até mesmo para você.
- Peter J. Carroll, Excerto de Liber Kaos & The Psychonomicon 


  O problema novamente não se encontra no conteúdo, mas na forma como expressamos. E com forma, eu quero dizer em como você se propõe a organizar e apresentar aquela série de conteúdos. Nossa forma de comunicação verbal e compreensão literal, estritamente racional e materialista da mente não nos permite dialogar com nossos componentes inconscientes ou subconscientes porque estas não respondem a nossa ordem simbológica racional, devemos aprender a pedir.
 Não adianta tentar fazer um filme emocionalmente engajante, com um roteiro elaborado e um orçamento alto se você quer ser um diretor ou roteirista de pornô - não que nossa mente funcione como um roteirista de filmes pornográficos, não ela toda...


Você não pode fazer isso, você não pode fazer aquilo...
Quando é a hora de brincar? O mundo dos adultos é
tão chato...
 Quando percebemos a descrição do Id, não como instituição real e palpável do cérebro, mas como uma instituição mental podemos entender melhor porque nossa capacidade de moldar a realidade não é necessariamente uma função do ego (responsável por intermediar as relações do Id com a realidade, o que provavelmente nos impede de discutir jogando nosso cocô nos adversários, uma pena, não?).
Esta instituição mental é responsável pela resposta direta aos estímulos ambientais, a porção impulsiva, instintiva e animal da nossa personalidade - esses instintos incluem os instintos sexuais, prazer e morte (seja o medo dela ou que nos guia até o seu berço esplêndido). 
 Como um exemplo de como essas instituições são construídas pelo indivíduo através do convívio social, temos a face da inocência e maldade infantil (o Id): crianças são, a um observador atento, hedonistas inocentes. Com o passar do tempo elas constroem um Ego e logo após, um SuperEgo (que mostra enfim a castração máxima do indivíduo perante as pressões do meio externo). Mas voltemos às crianças (vinde a mim as criancinhas, pois delas é o reino do Caos), estas não somente são hedonistas inocentes mas também capazes de grandes modificações na realidade desde amigos imaginários à crianças que pensaram que eram lobos e estão assim até hoje - esse poder descontrolado de distorcer o tecido da realidade, de onde emergem criaturas fantásticas como monstros debaixo das camas e poltergheists quebradores de prato... É sobre isso que o Id é sobre, ele realiza mesmo o que mais tememos, tornando vívido e claro mesmo aquilo que mais nos amedronte, externa o libido e produz projeções da consciência. Crianças criam anjos da guarda, lobisomens e até velhinhos em trenós voando (apesar do debate ainda ser ferrenho sobre papai noel ser um ser humano ou um duende gigante) porque elas tem energia mental em excesso numa mente que é só Id, mas com a construção cada vez mais precoce de um Ego e a falta de perseverança faz com que todos acabemos enterrando esse universo mágico como uma relíquia de um mundo infantil perdido que já não faz mais parte do nosso, pessimista e denso.
 Triste engano, pois quando buscamos sobre as várias formas de magia percebemos em como diversas práticas se assemelham às brincadeiras e rituais bobos (mas pesadamente simbológicos e com grande poder de libido) das crianças brincando de bruxos e cavaleiros em um universo de fantasia. E assim, sendo como as crianças podemos falar com essa instituição psicótica e perversa, mas inocente e infantil que é nosso outro eu.

O filme "Dr. Jekyll and Mr. Hyde" fala sobre as relações conflituosas de
Ego e o Id, personificados pelo doutor e a criatura que se assemelha a um
símio em fisionomia e comportamento. O comportamento agressivo e
deturpado de Hyde, em uma busca incessante por diversão e prazer
carateriza essa outra personalidade presente na estrutura psicológica
do ser humano.










Podemos, no entanto, ter com esse nosso "outro-eu" que expressa a todo momento seu desejo. Essa conversa se chama, acredite você, Magia. Seja através de processos de meditação, conversando com deuses que representem essa força psicológica ou como você preferir, é possível enviar mensagens para esse submundo da realidade consciente. Mas antes é necessário passar por um intenso processo de auto-conhecimento, como é possível presumir, pois nossas outras funções psíquicas também representam em si grandes perigos se estas saem do controle e uma forma de fazê-las sair do controle é despertar um contato com a realidade sem método ou preparação. Então, tome cuidado, não vá pro mato descalço, ok!?
 
Das formas mais simples de se conversar com essa máquina dos desejos, a mais comum é através do acesso simbológico: com os símbolos servindo como mapas ou rotas pelos quais pode se trafegar através das confusas e caóticas ruas do nosso próprio universo mental pessoal. Essas rotas nos levam a estados de espírito ou mesmo reforçam estímulos que nossa porção inconsciente se encarregar de realizar. Com intencionalidade e métodos corretos, podemos pedir e seremos respondidos. 
Agora se concentre nos seus desejos mais profundos: pense naquela torta de limão, naquele sorvete de uvaia, naquele peitinho de pera, daqueles Fnords... como eram verdes e frondosos aqueles Fnords...

 Autin Osman Spare é um exemplo desta aplicação em prática com uma técnica que chamou de "alfabeto do desejo". O desejo era resumido a uma frase ou uma palavra usada para produzir um pictograma, impossível de reconhecer pelas funções conscientes mas completamente compreensível para outros componentes psicológicos, este símbolo então era usado como um direcionamento, agora só faltando um ingrediente: o libido. Depois de conseguir facilmente evocar esse símbolo na mente, Austin utilizava alguma atividade prazerosa e mentalmente impactante (como o sexo, por exemplo) para carregar esse símbolo de energia mental - então, o símbolo era esquecido e esta combinação de um desejo formulado no alfabeto do Id somado a uma grande carga energética seguida de repressão severa da lembrança deste faz com que se crie um tipo de trauma psicológico artificial, que causa um efeito em cadeia no subconsciente até a manifestação material daquele desejo ser concretizada sem a necessidade de rituais complexos ou formas simbológicas extensas e duvidosas. Podemos perceber de novo a característica de reação a repressão e a capacidade de vingança silenciosa e sutil com que o Id pode nos castigar, ou mesmo com os maravilhosos paraísos de hedonismo e alegria desprovida de culpa com que ele pode nos presentear.

  Devemos aprender a conhecer nossa parte oculta. Como um exercício muito interessante, recomendo ver como você mesmo reage a alguma coisa (um filme, ler um texto, jogar um jogo) depois de comer coisas de dietas diferentes, de ingerir psicotrópicos diferentes, bem alimentado ou com fome, em locais diferentes - anote o que mudou, perceba como seu corpo, seus sentidos e sua percepção do ambiente e de si mesmo se modifica conforme você modifica o ambiente (mesmo preservando alguns fatores como forma de controle).
 Todas as instituições psicológicas ou informacionais da mente individual funcionam como mecanismos de recepção e envio de dados ou sensações, pensamentos e etc. Quando tratamos do Id, estamos falando de dados relevantes à sobrevivência e reprodução do indivíduo ou necessidades ambientais, aquelas que o ambiente demando do indivíduo, como beber água conforme ficamos desidratados para que possamos realizar normalmente as atividades metabólicas - se fossemos conceber sempre que temos que beber uma quantia de água x ou y por dia para que, no futuro, não tenhamos dificuldades em processar íons no corpo são explicadas pelo Id através de uma das coerções mais presentes e silenciosas, o medo de morrer. Puro e simples, podemos perceber que o medo da morte e a busca por prazer inflamam e enchem o Id de energia bruta mental para trabalhar, como um exército de gremlins destruindo a malha da realidade! Aliás, vocês já assistiram esse filme maravilhoso sobre a psicologia humana chamado GREMLINS?


VOCÊ TEM UMA MÁQUINA DOS DESEJOS
DENTRO DA SUA MENTE!!!
Desperte seus duendes interiores!
(e ponha os desgraçados para trabalhar enquanto você dorme)

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